sexta-feira, julho 27, 2007

Oooooo doooona!


Lembro- me ainda de quando aprendi a ler e escrever. Não com muita precisão, é claro, mas tenho bem nítida na memória aquela cena corriqueira: minha lousinha, o giz e algumas bonecas e ursinhos atentos às lições do dia. Com toda a didática e pedagogia de uma menina de 7 anos, eu tentei, mais tarde, ensinar meu irmão mais novo algumas letras.. mas ele não teve tanta paciência como os ursinhos de pelúcia.
Por muito tempo, essa foi a minha brincadeira preferida. E as cobaias foram muitas. Amiguinhas, mais bonecas e meu irmão tentou, mas não conseguiu escapar. Em todo caso, na falta deles, tinham meus alunos imaginários. Eu me divertia muito com a brincadeira, e por um bom tempo, a minha resposta para a clássica pergunta "o que vc vai ser quando crescer?" era pontual: professora.
Uma escolha não muito feliz para uma cidadã de um país de terceiro mundo fruto do mundo moderno repleto de profissões fashion.
O mundo real assuta. E os olhares reprovadores diante dessa escolha, fizeram eu deixar a idéia para segundo plano, e decidi então, que seria jornalista: muito mais bonito, interessante e, teoricamente, traria dinheiro.
Eu e mais 80% das pessoas da minha idade tiveram essa brilhante idéia. Resultado: carreira mais concorrida nos vestibulares de 2003... Ironia? Não sei, talvez seja aquilo que Freud chama de denegação.. e meu "destino" passa a se cumprir timidamente em fevereiro de 2004: quando eu me dei conta, estava entrando no universo da licenciatura novamente. A paixão pela literatura e pela gramática (sim, eu gostava de gramática..mas não se preocupem, já me libertei desse mal) me levou para o caminho da sala de aula novamente.
Bom, o que eu posso dizer? Sim, eu sabia desde sempre. Minhas bonecas também sabiam, era pra isso que eu havia nascido, pra ensinar.
Eu sabia que não era fácil. Ninguém me disse que seria fácil, e tem horas que eu definitivamente tenho vontade de desistir.
Mas, sinceramente? é impagável acompanhar o aprendizado. Por menor que ele seja. É gratificante vc ver o reconhecimento, nem que seja por recados do orkut. É delicioso observar os olhares atentos, e até os desatentos, que se voltam diante da repreensão. É divertido vê-los cantar a música nova que aprenderam.
Dizem que só damos valor ao que temos quando perdemos. O que mais me irrita nos clichês, é que eles estão certos.
E quando eu vi uma pequena me perguntar: Ai dona, vc gosta que eu te chame de prof? e pensei: não sou mais a prof. dela.. me bateu uma tristeza que eu achei que não fosse sentir.
E então, penso que não preciso de status. Nem de jalecos. Nem de Dr. na frente do meu nome.
Sou professora. Nasci professora. Por sorte ou azar. O fato é que o sou. Sou Dona, ou do que preferir chamar. E serei feliz enquanto puder ensinar.

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